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22 janeiro 2016

OS PAIS! TAMBÉM OS PAIS!...




Sara, Tristana e eu

Desde o dia em que nasceram
amo incondicionalmente a
Sara e a Tristana que hoje
fazem anos.
Simplifica-se muito quando se
diz que se amam os filhos mal se
olha para eles. Assim o mérito
parece todo dos pais; são eles
que amam mesmo mesmo quando os
bebés, oportunistas, apenas têm
uma vaga ideia que precisam dos pais.
A verdade é muito mais bonita. A verdade
é que os pais amam os filhos porque se
apaixonam por eles porque os filhos fazem-
se amar, tornando-se irresistíveis.
Os filhos desapaixonam-se dos pais. No
princípio os pais são as únicas pessoas
no mundo; depois são, brevemente, as
melhores. Segue-se uma lenta desilusão
que, com a adolescência, dói como um
barrete de um bebé enfiado à força na
cabeça de um vil guerrilheiro de 13 anos.
Depois, se nos portarmos bem e tivermos
sorte, lá se reconciliam a amar-nos, muito
teoricamente, com muitos protestos e
poucas demonstrações.
Já os pais, à medida que vão conhecendo
as pessoas que são os filhos, tanto se podem
apaixonar como desapaixonar-se. Depende
dos fihos. A verdade da vida, quase nunca
dita, é esta: a culpa é dos filhos.
Eu sou muito mais pai da Sara e da
Tristana do que elas são minhas filhas. Não
é tanto o substantivo como o pronome. E
amo-as muito mais do que elas me amam -
mas só porque é impossível amá-las menos.
Pelas pessoas que são. Cada vez mais me
apaixonam mais. Embora elas também
sejam - é preciso dizê-lo - as melhores
filhas que algum pai de merda já teve.


in Miguel Esteves Cardoso - Ainda ontem - PÚBLICO,QUI 21JAN2016

(imagem de: fecatolica.com.br)


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