Weather

17 fevereiro 2016

FEVEREIRO




A CHUVA

Nesta hora sozinha e pardacenta,
a chuva entra na aldeia...

No ar, cheio de musgo, a luz cinzenta
bruxoleia.

Através da vidraça,
vejo-a que chega: é uma mendiga escura,
trôpega e acurvada. E vem cansada.
Há, nos seus olhos vagos, amargura.
Oiço as suas passadas resignadas,
arrastadas por baixo da janela.
E digo para mim:- É a chuva. - E ela,
a triste velha curva e turva, passa...

No ar, cheio de musgo, a luz cinzenta
bruxoleia.

E a chuva atravessa a aldeia.

Através da vidraça,
onde colei a minha face, agora,
contra o vidro tão baço como o céu,
vejo-a que vai: e vai p'la rua fora...

Não se ouve uma voz. E ninguém passa.

Tudo se sente só: a chuva, e eu
.

(in Canções do Vento e do Sol, de Afonso Lopes Vieira - Colecção Clássicos da Língua Portuguesa - ULMEIRO - Livraria e Distribuidora, L.da)

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